segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

do terceiro lado da moeda

sempre que vejo um céu estrelado me obrigo a praticar minha noção de profundidade. essa falsa impressão de que o que estamos vendo é uma pintura ou um pano com infinitos furinhos lançado sobre a redoma em que vivemos exige esforços monumentais para se desfazer.
suponho que essa tendência de achatar a realidade se estenda a como nos vemos e, em especial, a como percebemos os outros. preferimos uma percepção simplificada às nuances delicadas que uma terceira dimensão oferece. odeio concluir um texto numa constatação pessimista, mas me obrigo a dizer: nossa chatice achata tudo a nossa volta.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

ao reflexo no espelho

me olhas com esses dois pontos pretos famintos de luz. tentas me convencer de que estou a ver minha própria imagem. mas sei que não estou por trás desse espelho. deixei minha luz em outro lugar. e por mais que eu ceda sorrisos ocasionais, o faço para me certificar de que as vinte e oito testemunhas ainda estão em bom estado. posso precisar delas algum dia desses.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

mesmo de longe, quando teu coração aperta, parece que eu sinto daqui.
mas não tem palavra que vá desatar o teu nó. nem gesto que vá aplacar a tua dor. 

no entanto, o tempo passa - com ou sem nossa permissão.
espero que os dias te permitam ver além dessas nuvens escuras que te cercam.
e desejo muito sinceramente que tu consiga achar um jeito de ser feliz, apesar de todo pesar.

(se teu aperto me sufoca, que o meu carinho faça o trajeto de volta e te encontre. mesmo de longe)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

a lua (uma fração dela) parecia ter se cansado das alturas e pairava baixa, quase laranja, no céu escuro. eu fiquei me despedindo enquanto ela descia. parecia fogo, depois poste de luz e por fim, uma brasa de cigarro. apaguei o meu próprio cigarro e fui dormir junto com ela.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

sentimentos acobertados

é o dilema das noites de verão: entre a coberta que te faz suar e o ventilador que gera arrepios nas costas, posição alguma traz conforto. as tentativas se sucedem. abraçando o edredom, com as pernas de fora. pernas encolhidas e torso ventilado. uma perna dentro, outra fora. sem coberta nenhuma. só lombar e bunda protegidas. múltiplas combinações e nenhum sucesso. a agonia de se estar com sono e não se acomodar já seria o suficiente. mas não, a cabeça resolve ter seu dilema a parte e pronto - agora, além da busca de um posicionamento que resolva a questão da temperatura, temos um nariz infeliz impedindo qualquer bem estar. meu único consolo é saber que o limite do meu corpo é menor que o da minha mente. e muito antes de eu chegar perto de qualquer resposta as perguntas que me atormentam, morfeu me pega pelas melenas e me joga com força em sonhos improváveis. quanto mais absurdo o sonho, melhor: mais distante me sinto da realidade... e mais feliz sou.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

que um raio me parta

bem ao meio.
que meu coração saia do meu peito e se lance ao mar agitado.
que meus pés sigam caminho sozinhos, iluminados apenas pelos meus dois olhos abertos.
que o resto do meu corpo se abrace a terra morna.
e que minha mente voe pra longe e encontre silêncio em algum não-lugar.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

ritual

se arde, cura. cadê a casquinha pra eu arrancar? sangra de novo. e eu lavo - e arde.