sexta-feira, 31 de outubro de 2008

#63

És uma sombra a cada linha rabiscada
És toda na que se encontra vazia
Pois assim está não por desamparada
Mas esperando mais adequada poesia
A fim de encontrar-te sem os embaraços
Que essas, infelizmente, oferecem
Para achar somente os abraços
Para dar-te apenas as preces
Sem rancor, nem passado citado
Sem pudor, sem azedume rimado
Só amor que tenho
E que tens direito de ouvir
Mas por ora te retenho
Nas linhas ainda por vir.

Do ano

Em janeiro nasço,
Fevereiro me acabo,
Em março me refaço,
Abri já é passado.

As moças casam-se em maio
(Então pulo direto pra junho)
Mas de nada vale tanto punho...
Se no mês seguinte já caio!

Agosto, de tão pouco sono,
Passa rápido demais.
Setembro traz o abandono
De ser deixado para trás.

Outubro ainda arde,
Mas novembro já vem vindo...
Dezembro promete - aguarde!
E que me encontre sorrindo.


x)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O tempo incerto

De tudo, foi o olhar que mais causou espanto. Sempre mantinha os olhos baixos, movimentando as pálpebras com tamanha lentidão que não estranharia se pegasse no sono em algum momento. No entanto, agora tinha a pupila dilatada, o cenho semi-franzido, encontrando o foco que a raiva teimava em afastar.
Era outra pessoa.

A sala estava azul. Caía o céu lá fora e, embora soubessem que era dia, ficava impossível precisar as horas. A chuva açoitava os vidros com força suficiente pra abafar qualquer outro som que porventura tentasse se sobressair. Fora isso era só o azul da sala, numa tarde incerta, quase noite, talvez.
A luz enganava.

Desviava os olhos dela para o chão, e dali para a árvore que se curvava ao vento. E era alterando o rumo da visão que sobrava algum tempo pra pensar. A mão suava o suficiente para que começasse a pingar no carpete a qualquer instante. Pra evitar, ele esfregava as palmas no interior das calças, enquanto tentava compassar a respiração novamente. Haveria algo que ele pudesse dizer?
Nada diria.

Era estranho vê-lo acuado, o olhar sem destino. Vulnerável. Quase surgia alguma compaixão. Mas quando a imagem desfocava, ela poderia permanecer com os olhos abertos e mesmo assim nada enxergaria. Eram só as lembranças. Queimando. Ela balançava a cabeça, na tentativa de afastar o passado e voltar ao presente. A sala azul. Ele sentado, perdido, patético. A chuva forte. E a raiva racional. Como pôde acontecer?
Mas aconteceu.

A sala ficou toda branca, num mínimo de tempo. Foi possível ver o transbordar de ódio no semblante usualmente calmo. A cadeira foi ao chão com um estampido alto - abafado pelo trovão que veio em seguida. Ele fez questão de evitar seus olhos até o último momento. Mas ela não o pouparia. Virou-lhe o rosto com força, cravando as unhas para segurá-lo assim.
E ele olhou.



quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Feche a sua janela

Quando abriu a porta de casa, levou logo a mão aos olhos, tamanha a luminosidade que o sol, mesmo poente, atirava através de cada janela da sala. Jogou a mochila e a chave no sofá, acompanhando os pertences logo depois. Dentro de alguns minutos, o sol se esconderia e a noite traria o frio que os jornais comentavam escandalosamente. Não custava aproveitar a réstia de calor e abrigo. Afinal, o dia havia começado mal. Transcorrera com semelhante má sorte e, embora muitas tarefas o aguardassem, ele era mais do que merecedor da meia hora de luz, esparramado entre as almofadas. Mesmo acordando cedo todo santo dia e dia santo, as sestas da tarde nunca lhe foram muito atraentes. Perdia o humor, ganhava uma eventual dor na lombar. Não valia a pena. Por não ter esse costume, ele não se preocupou ao fechar os olhos. Não dormiria. Nunca dormia fora de hora.

Era pequeno. No máximo cinco ou seis anos. Os primos mais velhos corriam no gramado do clube, pulando o pequeno muro que circundava a área das piscinas. Em pouco tempo estavam todos dentro d'água, atormentando uns aos outros com esguichos na cara e tentativas frustradas de afogamento. Ele assistia a tudo com bastante atenção. Era demasiado atraente para que uma criança apenas assistisse. A diversão era transbordante, uma alegria sem grande fundamento, mas verdadeira em sua essência. Atirou-se junto aos primos, de camiseta e tudo. O mais velho deles conseguiu retirá-lo d'água minutos depois, num turbilhão de mãos infantis que na ânsia de ajudar, acabavam por empurrá-lo mais para o fundo. Com a boca roxa, ele tossia e tremia de frio, a roupa toda encharcada, esperando que alguém voltasse com uma toalha e uma mãe.

Acordou de supetão, encharcado pela chuva que já molhava boa parte da sala. Tremia de frio e não tinha a menor noção de quanto tempo havia se passado. Já não circulavam carros nas ruas, muito menos avistou qualquer transeunte apressado pela tormenta. Fechou a janela com força, tanto pelo vento quanto pela raiva. Como isso teria acontecido? Quantas horas teria perdido? Não tinha jantado ou sequer começado quaisquer dos trabalhos que precisaria entregar no fim da semana.

Daquele dia em diante, ele nutriu profundo ódio por chuvas de verão, janelas abertas, sonhos flashback de infância e, especialmente, cochilos fora de hora.

Fim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Do doce

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Se dos teus olhos vertesse mel,
Quão doce já não estariam os meus?
E se tua boca fosse salgada, d'água marinha
Seria feita a boca minha.
Há estrelas iluminando teus braços
E já anoitece dentro de mim.
Sufoca-me então em abraços...
Passemos a noite assim.


-

Meu eu lírico absurdamente fora de controle.
Aff.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Por Enquanto

Estamos indo de volta pra casa ;)