ano do sol

eu não nasci no corpo errado. não me entendam mal. eu nasci bem onde dava, do jeito que dava e deu no que dei, bem assim. e é bem por isso que só eu sei de cada pinta e cada dobra e cada pelo. e só eu posso mexer na minha paisagem. só eu me desencaixo e sei onde por cada pecinha e sei também jogar umas fora de vez em quando. cês querem morar aí nos seus casulos sem nunca reformar, eu acho ótimo, acho prático, acho vintage. mas eu nasci pra sair fora das minhas cascas e estar sempre na pele fina de bebê prematuro (essa coisa do tempo de chocar o ovo eu ainda não peguei direito), sentindo o vento do mundo sempre novo, sempre fresco. minha fragilidade vai ser sempre a minha força. e eu vou parar de me desculpar por ser assim. não encaixei nas caixas e não vou construir uma pra mim. vou ventar por aí sem pedir licença. vocês não vão me legitimar, até porque eu não quero ser legítimo. cansei de lei, de ser legal e de gente legalista. beijos.