quinta-feira, 21 de novembro de 2013

o Começo

a Racionalidade foi a última a sentar-se à mesa. dos que agora compunham a cena, Sem-Nome havia sido o primeiro lá. não veio de lugar nenhum. sempre estivera ali, encarando - mesmo sem olhos - o vazio que se estendia a frente. do nada fez-se uma porta (ou talvez tenha brotado do chão. que chão? não havia chão. era o nada, o nada em tudo que se via. só que não se via porque ainda não havia quem visse, nem o que se ver). dela saiu a Forma. veio meio que se esparramando, afinal era só Sem-Nome e espaço ao seu redor. não foi difícil tomar conta. agora Sem-Nome tinha tamanho e peso e cor. eis que entra em jogo o Paradoxo. ele grita de fora e Sem-Nome quer se espalhar, aí grita de dentro e Sem-Nome quer se encolher. Sem-Nome então se espalha sem nunca arrebentar as pequenas cordinhas. pode ir e voltar por elas. transitar entre fora e dentro como bem entender. o penúltimo convidado chega. Emoção brota de dentro fazendo vibrar cada cordinha do arranjo. e aquela teia que Sem-Nome havia feito de si agora era uma harpa cujas notas surpreendiam seu próprio acidental autor. e foi só depois de muita música que a porta rangeu pela última vez. Racionalidade deu duas batidas antes de entrar, não queria ser inconveniente. limpou as botas antes de adentrar o recinto. cumprimentou a todos educadamente e se sentou. todos se olharam sem entender. mas como assim "entendimento"? isso sequer era palavra. palavras ainda não o eram, de forma geral. apesar da limitação linguística, estava instaurado para todo o sempre o desconforto de se saber não-sabedor.

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