sábado, 14 de setembro de 2013

a carta

meu velho, passei o dia inteiro tentando escrever algo aqui. não pra ti, que eu sei que tu já teve que passar o dia inteiro me ouvindo ensaiar isso em pensamento. mas pra nós que ficamos aqui e ainda estamos (sur)presos. inevitável a dor, a revolta, a sensação de que não existe sentido nenhum em nada disso. mas ao mesmo tempo as lembranças que guardo de ti são justamente de conversas que colocam dias como esse em perspectiva. e por mais que eu ainda vá, no meu egoísmo, sentir tua falta e imaginar tudo o que poderia ter sido, eu me sinto racionalmente compelida a pensar nesse dia como um dia alegre. o dia em que tu deixou de ser só um e passou a ser todos nós que te amamos. se vivêssemos no "se", talvez o dia tivesse amanhecido cinza por tudo que não pôde ser. mas vivemos no que é e hoje o sol brilhou no céu como nunca - tua luz é tamanha que não poderia ser diferente. entendo a indignação que fervilha pela injustiça de uma partida tão repentina. mas não admito pensar num mundo feio em função da feiúra dos que te abordaram. um mundo feio não teria produzido um samuel pra começo de conversa. tua passagem por aqui deixou marcas indeléveis - cada uma delas agora é semente-de-samuel dentro da gente. aguardamos agora a chuva que te fará brotar. um abraço apertado, irmão, e até logo mais.

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