quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O tempo incerto

De tudo, foi o olhar que mais causou espanto. Sempre mantinha os olhos baixos, movimentando as pálpebras com tamanha lentidão que não estranharia se pegasse no sono em algum momento. No entanto, agora tinha a pupila dilatada, o cenho semi-franzido, encontrando o foco que a raiva teimava em afastar.
Era outra pessoa.

A sala estava azul. Caía o céu lá fora e, embora soubessem que era dia, ficava impossível precisar as horas. A chuva açoitava os vidros com força suficiente pra abafar qualquer outro som que porventura tentasse se sobressair. Fora isso era só o azul da sala, numa tarde incerta, quase noite, talvez.
A luz enganava.

Desviava os olhos dela para o chão, e dali para a árvore que se curvava ao vento. E era alterando o rumo da visão que sobrava algum tempo pra pensar. A mão suava o suficiente para que começasse a pingar no carpete a qualquer instante. Pra evitar, ele esfregava as palmas no interior das calças, enquanto tentava compassar a respiração novamente. Haveria algo que ele pudesse dizer?
Nada diria.

Era estranho vê-lo acuado, o olhar sem destino. Vulnerável. Quase surgia alguma compaixão. Mas quando a imagem desfocava, ela poderia permanecer com os olhos abertos e mesmo assim nada enxergaria. Eram só as lembranças. Queimando. Ela balançava a cabeça, na tentativa de afastar o passado e voltar ao presente. A sala azul. Ele sentado, perdido, patético. A chuva forte. E a raiva racional. Como pôde acontecer?
Mas aconteceu.

A sala ficou toda branca, num mínimo de tempo. Foi possível ver o transbordar de ódio no semblante usualmente calmo. A cadeira foi ao chão com um estampido alto - abafado pelo trovão que veio em seguida. Ele fez questão de evitar seus olhos até o último momento. Mas ela não o pouparia. Virou-lhe o rosto com força, cravando as unhas para segurá-lo assim.
E ele olhou.



4 comentários:

R.Kaioh disse...

Aii gente, cmo blogs são divertidos neh?
A gente pode falar o que quer... e meio que alivia neh?
E tua QUASE não sabe se expressar... neh?!
uhaUHAuhaUHA
Xuxu da minha salada, te amo loucamente! Beijos do Raféssica! Minha Jushley

Unknown disse...

"Ele fez questão de evitar seus olhos até o último momento. Mas ela não o pouparia. Virou-lhe o rosto com força, cravando as unhas para segurá-lo assim.E ele olhou"

Tem um significado interessante esse paragrafo!

Unknown disse...

"tempo incerto"

Prefiro pensar assim:
" Tempo não cura tudo,Alias o tempo não cura nada,ele so tira o incuravel do centro das atenções!


ps;gosteeei muito do teu blog,nao sabia que tu tinha!

AMSacco disse...

Bah, to pasma. Tem um monstro legal aí dentro!